sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A arte de escrever e o bom uso das palavras


Esse post é dedicado àqueles que gostam de ler um bom texto e para meus colegas de profissão. É sobre o uso do vocábulo. A palavra tem sido banalizada, digo no sentido, no significado. São usadas de qualquer jeito. Precisamos aprender a aproveitar as palavras certas, principalmente nós, jornalistas. Para produzir um bom texto é necessário leitura e bom senso, deveríamos parar, pensar, ler, pensar de novo e começar com um dicionário ao lado. Uma palavra errada ou mal colocada pode mudar todo o contexto de uma história. Segue abaixo o texto de Eduardo Galeano, que fala muito bem a respeito disso,vale a pena ler.

Em defesa da palavra*
Acredito no meu ofício, acredito no jornalismo. Nunca pude entender por que escrevem esses jornalistas que vivem dizendo, tão cheios de si, que escrever não tem sentido num mundo onde as pessoas morrem de fome. Também jamais consegui entender os que convertem a palavra em alvo de fúrias ou um objeto de fetichismo. A palavra é uma arma que pode ser bem ou mal usada: a culpa do crime nunca é da faca.
Creio que uma função primordial do jornalismo latino-americano atual consiste em resgatar a palavra, que foi usada e abusada com impunidade e inconsciência, para impedir ou atraiçoar a comunicação. "Liberdade" é, no meu país, o nome de uma cadeia para presos políticos; chama-se "Democracia" a vários regimes de terror; a palavra "amor" define a relação de um homem com o seu automóvel; por "revolução" se entende aquilo que um novo detergente pode fazer em sua cozinha; "glória" significa, em muitos lugares da América Latina, o cemitério em ordem; e onde se diz "homem são" deveria se ler muitas vezes "homem impotente".
Ao se escrever, é possível oferecer o testemunho de nosso tempo e de nossa gente para agora e para depois, apesar da perseguição e da censura. Pode-se escrever como que dizendo, de certa maneira: "Estamos aqui, aqui estivemos; somos assim, assim fomos". Na América Latina, lentamente vai tomando força e forma um jornalismo que não ajuda os demais a dormir; antes, tira-lhes o sono; que não se propõe a enterrar nossos mortos; antes, quer perpetuá-los; que se nega a limpar as cinzas mas, em troca, procura acender o fogo.
Esse jornalismo enriquece uma formidável tradição de palavras que lutam. Se é melhor, como cremos, a esperança à nostalgia, talvez esse jornalismo nascente possa chegar a merecer a beleza das forças sociais que mudarão radicalmente o curso de nossa história – mais cedo ou mais tarde, por bem ou por mal. E quem sabe ajude a guardar para os jovens que virão "o verdadeiro nome de cada coisa" – como dizia o poeta.

*Eduardo Galeano, texto publicado no livro Vozes e Crônicas (Editoras Global/Versus, 1978).

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