sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Samu. Qual a sua emergência?

Fui até o SAMU para fazer uma reportagem, confesso a vocês que a única coisa que eu sabia é que se tivesse alguma urgência eu poderia ligar para o número 192 e só. Por causa dessa reportagem eu pude conhecer muito melhor o serviço que eles fazem e entender o porquê de muitas situações. .

De um lado alguém disca 192, do outro se ouve: Samu, qual a sua emergência? Começa assim o trabalho os funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Santa Catarina. O Samu é um serviço da saúde responsável pela regulação dos atendimentos de urgência, ou seja, determinar a importância de risco do paciente e pela transferência de pacientes graves de um hospital para outro.

O serviço começou no Estado de Santa Catarina em 2005 e vem crescendo ao longo dos anos. São em média 1.600 chamadas por mês. Quando alguém liga para o número 192, a ligação cai em uma central e ali é feita uma triagem antes de encaminhar para o médico. A seleção é feita para saber se a pessoa do outro lado da linha está com um caso realmente grave ou não, se a orientação pode ser feita por telefone e se é preciso uma deslocar uma ambulância, pois o Samu atende apenas casos graves, de urgência. O atendimento é feito por dois tipos de suporte, existem as unidades Bravo, ambulâncias de suporte intermediário acompanhado por um socorrista e um técnico de enfermagem, se necessário orientados por um médico por telefone e as unidades Alfa, de suporte avançado que vai com o socorrista, um técnico de enfermagem e um médico. A equipe de plantão busca cumprir a meta que é de até um minuto para sair com a ambulância e até 10 minutos para chegar ao local da ocorrência, às vezes isso não acontece por causa do número reduzido de ambulâncias e falta de informações sobre o endereço.

As dificuldades

Uma das maiores dificuldades que os funcionários encontram é a falta de informação da população sobre o serviço. O técnico que atende ao telefone precisa do máximo de informações possíveis sobre a vítima e o local do acidente, nem sempre a pessoa que liga tem paciência para responder, muitos reclamam por ter que responder tantas perguntas, mas é um procedimento necessário para que o atendimento seja feito o mais rápido e correto possível. Segundo o doutor Alfredo Hebbel, coordenador do Samu da Grande Florianópolis, 60% das pessoas que ligam para o Samu não são de casos urgentes. Nestas situações os médicos orientam por telefone ou dizem que não podem mandar ambulância. “Quando não é urgente nós temos que dizer não. Alguns ficam irritados, mas é a nossa função. É difícil para o regulador dizer não para a população.”.

Outro problema são os trotes, em média 40% das ligações são trotes, uma brincadeira nada engraçada que causa problemas. As linhas ficam ocupadas e muitas vezes ambulâncias são deslocadas à toa. Para combater e conscientizar a população sobre os danos que os trotes causam foi feita um campanha contra o trote. Segundo o doutor Alfredo Hebbel a mídia tem um papel muito importante e as campanhas tem tido influência positiva nos relatórios. Depois da conscientização feita através da mídia o número de trotes reduziu em torno de 60%.

A questão psicológica

Quando se fala em acompanhamento psicológico a equipe é unânime, acreditam que deveria ter um acompanhamento constante para os funcionários da saúde em geral. Isso não acontece hoje, é um projeto que ainda não saiu do papel, mas que, de acordo com os funcionários, seria fundamental para melhorar a qualidade de trabalho dos profissionais da área e para o atendimento da população. Apesar disso a maioria acaba mesmo se acostumando com a rotina e tentam amenizar a situação com bom humor.

O médico Saule Junior acredita que o equilíbrio emocional é fundamental para se manter na profissão. “O médico não foi educado ou preparado na faculdade para atuar na rua. No hospital você tem todos os recursos necessários, na rua você tem a pressão da ocorrência e o agravamento das pessoas em volta, às vezes gritaria, já recebi até puxadas no macacão. O emocional acaba virando uma muralha, ou melhor, uma cerca. Passam algumas coisas, mas a gente se acostuma. Ao mesmo tempo acabamos nos tornando mais compreensíveis na vida. Lidamos com risco todos os dias, por isso passamos a pensar mais na família também. Se você não tem uma base forte em casa, não vai agüentar. Seria sim muito interessante um apoio psicológico. Antes essa dificuldade era escondida, os médicos achavam que precisavam agüentar tudo, hoje já está sendo mais discutido. Precisamos entender que ninguém é herói e que damos o máximo de nós. Os elogios são bons, mas não em excesso, não podemos depender do agradecimento das pessoas para trabalhar. Não estamos fazendo nada além do nosso trabalho.”


O atendimento


Pude acompanhar o trabalho da equipe lá mesmo onde chegam as ligações e de onde saem as ambulâncias de suporte avançado. Para minha sorte ou não, os dois dias que passei lá foram calmos e atípicos, segundo os funcionários não é sempre assim tranquilo. No segundo dia em que estava lá o relógio já marcava 18h30 e nenhuma ambulância tinha saído para atendimento grave, pois onde eu tava estavam apenas as ambulâncias de suporte avançado, para casos graves. Pensei em voltar outro dia, pois eu tinha autorização para voltar e passar até duas horas por dia ali, quando estava pegando minha bolsa para ir embora o médico que estava do meu lado falou que achava que eles iam sair naquele momento, resolvi esperar, e ‘batata'! Fomos para uma ocorrência em um bairro próximo ao centro, uma mulher tinha tomado uma cartela de comprimidos inteira e estava desacordada.


A equipe de plantão foi muito ágil e pude perceber que para trabalhar ali não adianta ter apenas o conhecimento técnico, tem que gostar de gente. Com paciência e amor pelo que fazem, após o atendimento eles levaram a paciente para o hospital. De acordo com ex-coordenadora do Samu de São José Maria Luiza Sousa, o Samu é como se fosse uma empresa, o sucesso de mercado é uma vida salva. "Qual é o preço dessa vida?”, questiona ela.


Naquele dia o Samu alcançou mais um sucesso de mercado, salvou mais uma vida. Retornamos à base por volta de 19h30 e ali acabava mais um plantão da equipe.


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Um comentário:

Cristini Moritz disse...

Show de bola, Lê. Parabéns pela reportagem.